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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

06/08/2010

06/08/2010Play! prepara time de DJs para agitar a noite desta sexta
Prata da casa do Blackout Bar e destino certo da galera antenada da cidade, o projeto Play!, que acontece todas as sextas no local, apresenta hoje mais uma edição da festa. A festa, famosa por trazer personalidades ligadas à música que não sejam necessariamente DJs, recebe os convidados Mario Mamede, Bílis Negra Soundsystem, Prixsie, Gonzalo Insônia e Alysson Lago. Para eles, a regra do projeto é clara, estão livres para tocar o que quiserem e, assim, revelar suas referências musicais. Com base no rock, o projeto também explora outras vertentes musicais de acordo com o set list dos DJs convidados, nesta edição destaque para a discotecagem de música eletrônica, a partir das 23h30.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

PRINCESA DO FUNK


Ah, eu tô maluco




Ah, eu tô maluco
O camelô Jorge Silva da Rocha, 22 anos, é o criador do bordão que o Brasil entoa
Marcelo Camacho
Jorge, que cobra 2500 reais por show: "Gosto de dinheiro, carro e mulher"
Foto: Frederic Jean

"Ah, eu tô maluco", gritam as torcidas de futebol brasileiras para incentivar seus times em campo. "Ah, eu tô maluco", comemoraram os paulistas reunidos no Parque do Ibirapuera, diante do telão que mostrara a vitória do tenista Gustavo Kuerten na França. "Ah, eu tô maluco", balbuciou o mágico David Copperfield no Rio de Janeiro, diante das câmaras de TV, lembrando-se da única frase em português que aprendeu no Brasil. "Com 8 reais, FHC, eu fico maluco, rá-rá-rá", dizia um cartaz numa passeata de protesto de aposentados em Brasília, na semana passada. O Brasil ficou maluco? Não -- "Ah, eu tô maluco" é o mais recente dos bordões que de tempo em tempo viram mania entre os brasileiros. Alguns desses bordões surgem espontaneamente, não se sabe de onde. Outros têm autoria conhecida. É o caso de "Ah, eu tô maluco".
O bordão foi criado pelo camelô carioca Jorge Silva da Rocha, de 22 anos. No início do ano, Jorge divertia-se num baile funk em Madureira, subúrbio do Rio. No palco, quatro dançarinas morenas com short à la Carla Perez enlouqueciam a rapaziada. Jorge apostou com os amigos que subiria no palco para gritar alguma coisa. Se subisse ganharia 50 reais. Se não subisse, teria de voltar para casa só de cuecas. Ele subiu e gritou "Ah, eu tô maluco". "Foi por causa das meninas que estavam dançando, elas eram de enlouquecer mesmo", explica Jorge. O grito de Jorge foi gravado e mais tarde mixado na música Montagem do Desesperado, do conjunto Movimento Funk Club, que se apresentava naquela noite. A faixa com o grito começou a tocar nas rádios cariocas, ecoou nos bailes funk e num instante chegou ao Maracanã.
"Macumba" -- Quem deixou Jorge subir no palco foi Fat Boy, MC do grupo Movimento Funk Clube. Para quem não sabe, MC é a abreviação de mestre-de-cerimônias, que no mundo do funk batiza aquele sujeito desafinado que nos bailes berra letras de músicas e palavras de ordem para o público. "Eu mandei o Jorge subir porque ele ainda estava sem os dentes da frente, tinha a cara do Tião Macalé e era engraçado", diz Fat Boy. Jorge quase perde a carona no sucesso do próprio grito. Semanas depois, ele procurou o Movimento Funk Club e pediu para participar de seus shows. Ouviu um "não". Daí, resolveu ele mesmo se tornar um MC e lucrar com sua criação. Tornou-se, por assim dizer, cantor de funk.
Roger: Inútil criada no chuveiro
Foto: Elena Vettorazzo

Há algumas semanas, Jorge vem se apresentando na TV e em bailes de periferia com o nome artístico de MC Maluco. Atua em dupla com o DJ Pepe, que comanda uma bateria eletrônica. Cobra 2.500 reais por show -- muito mais do que ganhava como camelô, cerca de 60 reais por semana. Transformou o grito "Ah, eu tô maluco" na música Maluco Raça, sobre as torcidas de futebol. Vai agora lançar um disco, produzido pelo DJ Marlboro. Jorge já apurou o visual -- consertou a falha nos dentes com uma prótese e melhorou o guarda-roupa com o patrocínio de uma butique de subúrbio. Com a carreira de funkeiro, que nem ele acredita que dure muito, espera juntar dinheiro para ter sua própria barraca de camelô, já que antes trabalhava para o irmão mais novo. Jorge tem outros sonhos. Um deles é comprar um carro, já que demoliu o veterano Fusca 1969 do pai enquanto dirigia embriagado. Outro é conquistar o amor de uma vizinha evangélica em Oswaldo Cruz, no subúrbio do Rio, onde mora. "Mas não vou me converter, sou de macumba", ele diz. "Gosto mesmo é de carro, dinheiro e mulher", esclarece.
Embora só tenha estudado até a 5ª série e repetido de ano várias vezes, Jorge é bom de frases. Alguns exemplos:
"Quantas namoradas eu já tive? Ah, minha cabeça não é computador."
"O cantor nº 1 do Brasil atualmente é o MC Maluco. Quer dizer, tem também o Djavan..."
"Cantora boa? A Nanda D'Ávila, lá de Santa Teresa. É um filezão. Atriz? A Glória Pires é bonita pra canudo."
"Fiquei triste quando tive que vender minha moto. Sabe como é, mulher quando vê moto perde a linha."
"Se eu transo de camisinha? Claro, encapo o garoto direto."
"Em quem votei para presidente? Ih, anulei. Político é tudo safado."
Com toda a sua simplicidade, Jorge Silva da Rocha conseguiu um prodígio. Criou uma frase por meio da qual os brasileiros expressam suas emoções e seu estado de espírito. "Eu tô maluco", na verdade, quer dizer "eu estou alegre". Fosse cunhada há duas décadas, a expressão poderia ser relacionada às drogas. Por que, hoje, maluquice virou sinônimo de alegria? Para o psiquiatra Christian Gauderer, o grito "Ah, eu tô maluco" é uma forma típica de o carioca exercer o seu deboche e também uma atitude defensiva. "Antes que alguém diga que o meu comportamento de torcedor é de maluco, eu mesmo já assumo isso. Então, eu tiro a bala do canhão dos meus críticos", ele teoriza. A expressão criada por Jorge é um sucesso tão grande que pode render-lhe um reforço no orçamento na forma de direitos autorais de campanhas publicitárias.
"Uh, tererê" -- "Se esse rapaz fosse publicitário, com a sintonia fina que ele tem com as pessoas, valeria ouro no mercado", diz Carlos Domingos, diretor de criação da DM 9, que planeja duas campanhas usando o bordão "Ah, eu tô maluco". "O Jorge verbalizou num baile funk o que estava no inconsciente coletivo de todo o país", opina Washington Olivetto, da agência W/Brasil, que adaptou para a publicidade, num anúncio de guaraná, o bordão que as torcidas de futebol usavam até há pouco -- "Uh, tererê". A expressão, que chegou a servir de grito de vitória de congressistas em Brasília, também surgiu nos bailes funk. É a adaptação para o português de um rap americano do conjunto Tag Team, cujo refrão diz: "Whoop! There it is!" (Ôpa! Aí está!). Na pronúncia dos funkeiros, a frase virou "Uh, tererê".
Moraes Moreira: testemunha do nascimento do "Por que parou? Parou por quê?"

Foto: Selmy Yassuda
Os bordões surgem quando menos se espera. O compositor Moraes Moreira viu um deles nascer no Carnaval baiano de 1988, quando tocava no alto de um trio elétrico. Houve uma briga na Praça Castro Alves e o show parou. "Percebi um grupinho pequeno na multidão gritando "Por que parou? Parou por quê?" No mesmo ano, Moraes usou a expressão em seu disco Sinal de Vida, no frevo Por que parou? Parou por quê?, e ajudou a popularizá-la. Até hoje ela é repetida ao final dos shows, como uma forma de pedir bis. Em 1982, o compositor Roger Moreira, do Ultraje a Rigor, estava cantarolando no chuveiro quando criou a frase "A gente somos inútil". Faixa de maior sucesso do primeiro disco do conjunto, Inútil virou refrão nacional. Era um protesto contra as eleições indiretas, a ignorância, a falta de vergonha da classe política e a miséria brasileira. Seja criado por artistas ou surgido espontaneamente, bordão bom é aquele que em poucos dias se multiplica na boca do povão. Como vem acontecendo com o de MC Maluco.